Rearticular o campo da esquerda para derrotar o bolsonarismo foi o caminho apontado pela palestra que debateu conjuntura pós-eleições

Rearticular o campo da esquerda para derrotar o bolsonarismo foi o caminho apontado pela palestra que debateu conjuntura pós-eleições

Aconteceu nesta quinta-feira (03/12) a palestra virtual sobre “Atualização da Análise da Conjuntura Internacional e Nacional, Estadual, Regional e Municipal”, com o jornalista e presidente do Centro de Estudos da Mídia Alternativa “Barão de Itararé”, Altamiro Borges (Miro) e o vereador Gustavo Petta (PCdoB).

O encontro foi mais uma atividade de formação da Apropucc e Sinpro Campinas e Região em parceria com o CES (Centro Nacional de Estudos Sindicais e do Trabalho).

Ao tratar das análises das conjunturas Internacional e Nacional, Miro dividiu sua apresentação em três blocos. O primeiro foi entender o cenário que estamos vivendo no mundo, especialmente na América Latina e Brasil, o segundo bloco denominou como apresentar uma péssima notícia e depois apresentar uma boa notícia para encerrar de forma otimista, sugeriu ele.

Palestra_altamiro_borges_03_12_2020

Jornalista Altamiro Borges

Para o jornalista estamos vivendo um período muito difícil em relação à luta de classes no mundo porque vivemos uma regressão muito violenta do ponto de vista da retirada de direitos e ataques à democracia.

Para Miro a conjuntura atual combina um processo macro de ofensiva das classes dominantes pelo poder com um processo micro de mudança no mundo do trabalho.

É uma ofensiva neoliberal de desmonte do trabalho, dos Estados e das nações mais dependentes somado a um processo micro que se configura nas mudanças, principalmente tecnológicas, que estão ocorrendo no mundo do trabalho.

Para fugir da crise, o capital está fazendo uma reformulação profunda no mundo do trabalho utilizando-se do avanço tecnológico para aprofundar a precarização do trabalho. Para Miro essa situação não é de agora, em que o teletrabalho se faz mais presente por conta da pandemia, mas vem desde a década de 1980.

Com isso, a combinação das políticas neoliberais com as mudanças no mundo do trabalho tem dificultado muito a luta dos trabalhadores e trazido regressões.

A péssima notícia, explicou Miro, é que nas eleições presidencial e municipais a direita e centro-direita saíram vitoriosas, ampliando sua base. Segundo ele, as ideias reacionárias, conservadoras e preconceituosas ganharam força nos últimos tempos e nesse primeiro teste eleitoral, das eleições municipais, o bolsonarismo demonstrou que não está bem das pernas, mas mesmo com grande rejeição ainda tem força e pode cometer muita atrocidade no rumo do fascismo e do ataque aos direitos dos trabalhadores.

Como boa notícia defendeu que durante a luta de classes nós estamos tendo mais resistência e avançamos no debate com as camadas populares e na unidade entre as diversidades.

Altamiro pontuou que estamos conseguindo dialogar melhor com a juventude de periferia e foi muito importante ampliar e poder ouvir as vozes dos movimentos negro, de gênero, ambiental etc. Em sua avaliação a esquerda brasileira, desde as eleições de 2012, tem dado sinal de recuperação, não saindo vitoriosa das últimas eleições, mas demonstrando sua força e sinais de resistência.

Sobre a pandemia explicou que os conflitos vão se acirrar no mundo, principalmente na América Latina e no Brasil. “A pandemia está aí e a burguesia vai tentar resolver jogando nas costas do trabalhador e isso vai agudizar a luta de classe e nós temos que estar preparados para enfrentar. Isso exige de todo mundo uma mensagem muito clara, muito enfática e decisiva… esse momento está exigindo opiniões firmes e muita nitidez a respeito das nossas bandeiras”.

Para ele, levantar a bandeira da vacina para todos é defender a vida. Além disso, essa bandeira está ligada à retomada da “normalidade” do funcionamento da economia, que por um lado implica na garantia de emprego e renda. Para ele Saúde e Economia podem andar juntas porque uma coisa não está dissociada da outra.

Miro defende que temos que ter um posicionamento firme na defesa da vida, da Saúde Pública, do emprego e da renda.

A esquerda está retomando a ofensiva do debate político

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Vereador Gustavo Petta

O vereador Gustavo Petta discorreu sobre os panoramas Estadual, Regional e Municipal corroborando com a ideia do jornalista Miro de que o campo da centro-direita teve uma vitória expressiva nas últimas eleições e que houve uma derrota dos bolsonaristas no Brasil como um todo, especialmente no Estado de São Paulo.

A derrota está bem caracterizada, mas o tamanho e o impacto que isso vai ter para 2022 precisam ser medidos com mais profundidade, destacou Petta.

Outra questão apontada por ele é que a pauta da última eleição presidencial que propunha a negação da política e do papel dos políticos teve um refluxo nestas eleições municipais. A ideia de rejeitar a participação na vida política foi refutada pela população que está tomando ciência do seu importante papel nas tomadas de decisões eleitorais.

O vereador lembrou que a unidade da esquerda é fundamental, mas na atual conjuntura não tem se demonstrado suficiente para derrotar o bolsonarismo e a direita com um todo. Mas é uma necessidade tanto para as batalhas eleitorais, quanto para as lutas dos movimentos sociais, populares e sindical.

Explicou ainda que a Frente Ampla, com setores progressistas e democráticos, sem uma unidade no campo da esquerda, ou de boa parte da esquerda, é uma ilusão e submissão. Na sua concepção, se nos unirmos ao campo da centro-direita sem poder de fogo seremos submetidos à pauta deles.

Defende também que a gente precisa ter mais força para resistir aos ataques às pautas do campo da esquerda. “É preciso unir nosso campo e ampliar”, destacou. A partir do fortalecimento de uma frente de esquerda podemos construir uma Frente Ampla. Só frente de esquerda sozinha não vai dar conta e uma Frente Ampla por si só não terá vitórias consistente, avaliou.

Petta concorda com Miro de que as articulações do movimento negro, LGBTQI+ e feminista, entre outros, precisam ser mais valorizadas e trazer para mais próximo do movimento sindical. Isso porque essas camadas são agredidas por pessoas e grupos preconceituosos, machistas, e misóginos, que se sentem no direito de atacar as pautas da diversidade, e também pelo Estado opressor e fascista.

O vereador destacou o enfrentamento que o movimento negro tem feito historicamente contra a violência e ressaltou que a luta do povo negro é de toda a sociedade e deve ser uma pauta encarada pela esquerda, porque é uma luta em defesa das populações carentes e vulneráveis.

Para Petta não tem como falar de luta eleitoral sem falar em luta dos movimentos populares e sociais. “Temos que ter opiniões mais nítidas, mas claramente do nosso campo, lógico que existem mediações, mas as mediações não pode ofuscar ou mascarar nossas opiniões concretas sobre o que deve ocorrer no Brasil: o que é a direita, o que são essas forças fascistas. A gente tem que falar com nome e dizer quem é, o que é e o que estão fazendo. Acho que isso é fundamental para angariar e dar mais confiança a uma militância que está se fortalecendo e surgindo e que pode ser fundamental para os próximos processos políticos”, defendeu o vereador.

Essa palestra virtual foi mediada pela diretora da Apropucc, do Sinpro Campinas e coordenadora geral do CES, Liliana Lima e contou com as saudações do coordenador de Formação do CES, Augusto Petta, da vice-presidente do Sinpro Daniela Zancheta e da presidente da Apropucc, Silvana Suaiden.

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